quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Maratona do Porto

Para falar da maratona do Porto tenho que voltar a falar no UTAX.  112 km feitos há 3 semanas deixam mazelas e a recuperação difícil para este desafio. Os treinos foram feitos, como sempre, com a ajuda preciosa do António Nascimento, que me tem feito todos os meus planos de treino.

Fazer o UTAX abaixo das 19horas foi bom por vários motivos. Por um lado, tive a companhia do Kaka Jesus, da Ana e da Cristina, que estiveram em todos abastecimentos a tratar de tudo para que nada nos faltasse. Para além disso, o facto de saber que os meus amigos de sempre estariam na meta foi mais do que suficiente para cedo perceber que dificilmente não atingiria o meu objetivo.

O tempo - o tal tempo de que quase toda a gente fala - seria o menos importante. Podia demorar 30 horas, eles estariam lá na mesma e eu chegaria ao fim.
Como sempre, fiz a prova com o objetivo de chegar ao fim e com algum sofrimento (que é o normal neste tipo de provas) terminaria. Se não chegasse, eles estariam lá e eu ficaria feliz na mesma.

O que me move não são tempos. O que me move é a alegria de me superar e de chegar ao fim. Foi com esse espírito que fiz algumas ultramaratonas e esta última (a maior distância que fiz) não fugiu à regra.

Quando decidi fazer a maratona, tinha como objetivo correr num ritmo tranquilo. Por vários motivos. Era o meu aniversário: fazia 40 anos e achei giro fazer a minha primeira maratona nesse dia. Em conversa com a Barbara, percebi que ela tinha como objetivo terminar e decidimos fazer a “coisa” juntos, aliando o útil ao agradável: tinha companhia e ajudava-a a atingir o seu objetivo.
A estrada não é, de todo, o meu sitio de eleição para correr, mas queria fazer uma maratona.

Foi bom fazer assim os 42k. Fez-me lembrar os motivos pelos quais corro. Ser feliz, aproveitar o que as provas me proporcionam: paz e liberdade.
Ontem, não vi muitas pessoas com esse espírito. Vi pessoas preocupadas com tempos, BPM, RP, Pace e outras coisas mais. Para mim, correr não é isso.
Fazer a maratona num ritmo abaixo do meu voltou a mostrar-me que os verdadeiros heróis estão do meio para o fim da prova. Esses sim são os verdadeiros maratonistas: pessoas que fazem uma grande parte do percurso em grande sofrimento mas que tentam, lutam e chegam ao fim.
A Barbara preparou-se bem para a maratona, mas sofreu imenso. Percebeu que, por muito bem que nos tenhamos preparado, basta um dia de calor como o de ontem para fazer com que tudo se torne bem mais difícil.

Chegar e ter os meus amigos na meta com um bolo, confetis e a cantarem-me os parabéns foi espetacular. A prenda que a minha irmã e o meu cunhado me ofereceram foi a cereja no topo do bolo. Obrigado aos dois, por estarem sempre presentes.


Saí do Queimódromo feliz por ajudar uma pessoa a chegar ao fim e com o coração cheio por ter amigos destes.

Em conclusão: uma maratona, tal como uma prova de 5 km, é uma distância. Nunca deveria ser um tempo. As pessoas que correm distâncias são muito mais felizes do que as que correm tempos.



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

GTSA 2015

O dia começou cedo.
Triste, com nevoeiro e alguns aguaceiros.
Cheguei a Dem por volta das 07h com umas condições climatéricas não muito boas, mas mesmo assim consegui ver o primeiro empeno que me esperava: a Pedra Alçada.
Encontrei amigos e conhecidos de outras provas: o Nuno Silva, a Sandra Finisterra, o Paulo Moreira, o Paulo Pelicano e tantos outros.
Falei nestes porque me acompanharam nos dias em que estive nos Açores a fazer o Azores Trail Run e esses vão ser sempre amigos para a vida.
Começar a prova ao som das 8 badaladas é uma das imagens de marca deste evento. E as 8h em ponto lá partimos todos, serra acima.



A volta à freguesia de Dem é o início de uma prova que se revelou muito dura à medida que se aproximava do fim.
Chegados a meio da Pedra Alçada, o nevoeiro ficou lá em baixo e o sol apareceu, sendo que fomos brindados com uma paisagem para cima de espetacular.
Comecei a prova bem, num bom ritmo fazendo a Sra do Minho quase sempre a trotar e chegando a São João da Montaria (33Km) com 4 h de prova. Mas o calor que se começou a fazer sentir, juntamente com o cansaço provocado pelo ritmo que impus, levou-me a ter de baixar o andamento e apreciar uma das partes mais bonitas do trajeto.
Correr ao lado do Rio Ancora, das suas cascatas e piscinas naturais, é um privilégio. Paisagens de cortar a respiração, lagoas onde só nos vem à cabeça uma coisa: mergulhar!
As cores, os sons, ali a natureza está num equilíbrio perfeito. São cenários como este que me fazem gostar cada vez mais de correr ma montanha. Mas, se tem tanto de belo, também tem de duro e o “homem da marreta” apareceu-me mais ou menos nessa zona.
Os últimos kms de prova foram muito duros, custaram-me muito. 
Foi aí que tive de cerrar os dentes e pensar: “é para isto que aqui estas, é disto que tu gostas.”


Por isso eu adoro a Serra D´Arga. É bela e dura.
A subida final que me levou novamente a Pedra Alçada foi uma luta enorme, mas quando pensava que as dificuldades iam acabar no final da subida percebi que ainda tinha que descer até Dem.
E descer custa sempre mais que subir (pelo menos a mim), mas lá encontrei um parceiro para me acompanhar até ao final.
Cortei a meta com 6h57m.

Exausto mas feliz. Como mandam as leis do trail run.
Obrigado Mauro e Bárbara pelo abraço no final. É bom encontrar amigos no final :)



“O trail, por vezes, não nos leva a nenhures senão a um lugar que nos faça parar e apreciar o nosso mundo”

Anne Frost 

terça-feira, 9 de junho de 2015

Azores Trail Run 2015

Azores Trail Run 2015






Nem sei por onde começar.
Toda esta aventura está muito fresca na minha memória.
Os cheiros, as cores, as pessoas, os trilhos, a descida alucinante até aos Capelinhos onde voei....  
Todo o cansaço como que por magia desapareceu, corri aqueles últimos kms quase sem tocar no chão e fiquei com o coração cheio.
Toda esta viagem foi planeada. Precisava dela. Precisava de voltar ao Faial.
Senti que se o fizesse “sozinho”, sem os meus amigos de sempre, iria ser diferente. Não podia estar mais certo.
Conheci pessoas novas, estive num grupo fantástico.
O Nuno e a Sandra o casal trail runner, o Paulo Gomes conhecido de outras correrias no Porto, o Paulo Moreira que come 10 sardinhas todos os dias e o Carlos Santos que partilhou o quarto comigo e foi um compincha à maneira.
Todos eles ficaram meus amigos para a vida pois tudo o que se passa no meio do Atlântico tem um valor e uma carga emocional muito grande.





Conheci o Sr. Américo, um serrano da Guarda de 82 anos acompanhado pela sua esposa sempre sorridente, que me fez sentir pequenino quando me disse que ia fazer a prova de 25 km. Contou-me histórias daquelas que nos deixam pregados no chão e não nos deixam perceber o tempo passar. Quando recebeu o prémio no pódio disse: “…só queria que as pessoas se dessem todas bem umas com as outras e fossem todas felizes.”
O facto de ter terminado a prova para ele foi relegado para segundo plano. “ Estou um bocadinho maçado, mas amanhã quero subir o Pico” disse-me ele quando voltou para a mesa.
Que resiliência, que vontade de viver! O Sr. Américo é a prova de que os limites estão dentro da nossa cabeça.
Queria falar dos trilhos mas não o vou fazer, vou tentar não o fazer, pois quero que este bocadinho de paraíso seja descoberto pelas pessoas que lerem isto. Vão até lá, descubram.
Vale a pena.

Durante a prova senti a ajuda de todos. A subida para a caldeira foi dura e consegui subir sempre a correr, embora as minhas amigas vaquinhas fossem às dezenas no meio do estradão.
Estava lá o meu Pai, o mestre Chico, o João Marinho (um grande abraço Pedro), a minha avó...
 Todo o meu grupo do BYL! estava no meu pensamento e sempre que precisei vocês ajudaram-me a voar. 
Emocionalmente foi uma prova brutal. A subida à caldeira pela sua distância e a entrada na caldeira deixou-me pregado ao chão. Parei. Tive que parar.

Fiquei parado a ouvir o silêncio no miradouro até que um casal de turistas me disse:       “Não vais correr mais?”
Acorda Francisco, pensei eu. Agradeci e continuei.
Correr na caldeira é tal como o Armando Teixeira diz : “ É ter uma mão a tocar no mar e outra na montanha”. Literalmente.
A zona das levadas é idílica: as cores, a luz, as plantas, as árvores, tudo é belo quando estamos naquele equilíbrio perfeito com a natureza. Houve também uma parte em que me pareceu estar nos Trilhos dos abutres, tanta era a lama e a humidade, mas até aí foi espetacular.
A última subida foi muito dura, mas sempre a ultrapassar com o pisca ligado. À medida que a prova se ia aproximando do fim o cansaço parecia não existir. 
Descer até ao Farol dos Capelinhos foi um misto de alegria e raiva! Raiva, mas daquela raiva boa que nos dá força, que nos motiva.

Desci como nunca tinha descido nada, corri como se não houvesse amanhã, queria cortar a meta e dar um abraço ao Paulo que já tinha terminado.
Já vos disse que foi espetacular?
Cerveja e carapauzinhos de escabeche. Onde? No fim do Azores Trail Run. Só aí se comem carapaus de escabeche no fim de uma prova.
Depois foi esperar chegar o resto do grupo. O Nuno, a Sandra, o Paulo Moreira.
O sorriso na cara deles fez-me perceber que tinham vivido o mesmo que eu.
Vi chegar a Bárbara que fez a sua primeira ultra e vinha ofegante, mas com uma expressão de felicidade.
 Acho que todos nós na meta ficamos com essa expressão.
Depois chegou o Andrea que já tinha a Francesca à sua espera na meta. Ele fez a prova maior, ela a mais pequena. Este casal recém-casado veio aos Açores passar a sua lua-de-mel.
                E nada melhor do que fazer uma ultra maratona. Também o Andrea fez a sua primeira ultra e a Francesca está a começar nestas lides do trail. Que casal tão simpático e boa onda.
               



  Apareceu também o Leon Luts. Um americano que tem uma barba quase do tamanho das barbas do Panoramix. Não corta a barba vai a caminho de 6 anos. Uma figura, também um bem-disposto, tal como todos com quem me cruzei.
               


  Foi inesquecível. Todos os momentos. Os treininhos ligeiros, os almoços e jantares, os 2 gins J que bebi no Peter (porque beber antes das provas faz mal), aquele bife de atum que ainda não consegui arranjar um adjetivo para o qualificar....
                Mais uma vez o Faial deixou em mim a sua marca. Só me resta agradecer a todos que se cruzaram comigo nesta viagem. O meu muito obrigado a todos. Foram dias inesquecíveis.
                Quando o avião levantou chorei.
De alegria por ter vivido aquele sonho.

                Francisco
 


"O trail, por vezes, não nos leva a nenhures senão a um lugar que nos faça parar e apreciar o nosso mundo".
Anne Frost