Azores Trail Run 2015
Nem sei por onde começar.
Toda esta aventura está muito
fresca na minha memória.
Os cheiros, as cores, as pessoas,
os trilhos, a descida alucinante até aos Capelinhos onde voei....
Todo o cansaço
como que por magia desapareceu, corri aqueles últimos kms quase sem tocar no chão
e fiquei com o coração cheio.
Toda esta viagem foi planeada.
Precisava dela. Precisava de voltar ao Faial.
Senti que se o fizesse “sozinho”, sem os meus amigos de sempre, iria ser diferente. Não podia estar mais certo.
Conheci pessoas novas, estive num
grupo fantástico.
O Nuno e a Sandra o casal trail
runner, o Paulo Gomes conhecido de outras correrias no Porto, o Paulo Moreira
que come 10 sardinhas todos os dias e o Carlos Santos que partilhou o quarto
comigo e foi um compincha à maneira.
Todos eles ficaram meus amigos
para a vida pois tudo o que se passa no meio do Atlântico tem um valor e uma
carga emocional muito grande.
Conheci o Sr. Américo, um serrano
da Guarda de 82 anos acompanhado pela sua esposa sempre sorridente, que me fez
sentir pequenino quando me disse que ia fazer a prova de 25 km. Contou-me histórias
daquelas que nos deixam pregados no chão e não nos deixam perceber o tempo
passar. Quando recebeu o prémio no pódio disse: “…só queria que as pessoas se dessem todas bem umas com as outras e
fossem todas felizes.”
O facto de ter terminado a prova
para ele foi relegado para segundo plano. “ Estou um bocadinho maçado, mas
amanhã quero subir o Pico” disse-me ele quando voltou para a mesa.
Que resiliência, que vontade de
viver! O Sr. Américo é a prova de que os limites estão dentro da nossa cabeça.
Queria falar dos trilhos mas não
o vou fazer, vou tentar não o fazer, pois quero que este bocadinho de paraíso
seja descoberto pelas pessoas que lerem isto. Vão até lá, descubram.
Vale a pena.
Durante a prova senti a ajuda de
todos. A subida para a caldeira foi dura e consegui subir sempre a correr, embora as minhas amigas vaquinhas fossem às dezenas no meio do estradão.
Estava lá o meu Pai, o mestre
Chico, o João Marinho (um grande abraço Pedro), a minha avó...
Todo o meu grupo
do BYL! estava no meu pensamento e sempre que precisei vocês ajudaram-me a
voar.
Emocionalmente foi uma prova brutal. A subida à caldeira pela sua distância e a
entrada na caldeira deixou-me pregado ao chão. Parei. Tive que parar.
Fiquei parado a ouvir o silêncio
no miradouro até que um casal de turistas me disse: “Não vais correr mais?”
Acorda Francisco, pensei eu. Agradeci e continuei.
Correr na caldeira é tal como o Armando Teixeira diz : “ É
ter uma mão a tocar no mar e outra na montanha”. Literalmente.
A zona das levadas é idílica: as
cores, a luz, as plantas, as árvores, tudo é belo quando estamos naquele
equilíbrio perfeito com a natureza. Houve também uma parte em que me pareceu
estar nos Trilhos dos abutres, tanta era a lama e a humidade, mas até aí foi
espetacular.
A última subida foi muito dura,
mas sempre a ultrapassar com o pisca ligado. À medida que a prova se ia
aproximando do fim o cansaço parecia não existir.
Descer até ao Farol dos Capelinhos foi um misto de alegria e raiva! Raiva, mas
daquela raiva boa que nos dá força, que nos motiva.
Desci como nunca tinha descido
nada, corri como se não houvesse amanhã, queria cortar a meta e dar um abraço ao
Paulo que já tinha terminado.
Já vos disse que foi espetacular?
Cerveja e carapauzinhos de
escabeche. Onde? No fim do Azores Trail Run. Só aí se comem carapaus de
escabeche no fim de uma prova.
Depois foi esperar chegar o resto
do grupo. O Nuno, a Sandra, o Paulo Moreira.
O sorriso na cara deles fez-me
perceber que tinham vivido o mesmo que eu.
Vi chegar a Bárbara que fez a sua primeira ultra e vinha ofegante, mas com uma expressão de felicidade.
Acho que todos nós na meta ficamos com essa expressão.

E nada
melhor do que fazer uma ultra maratona. Também o Andrea fez a sua primeira
ultra e a Francesca está a começar nestas lides do trail. Que casal tão simpático e boa onda.
Foi
inesquecível. Todos os momentos. Os treininhos ligeiros, os almoços e jantares,
os 2 gins J
que bebi no Peter (porque beber antes das provas faz mal), aquele bife de atum
que ainda não consegui arranjar um adjetivo para o qualificar....
Mais
uma vez o Faial deixou em mim a sua marca. Só me resta agradecer a todos que se
cruzaram comigo nesta viagem. O meu muito obrigado a todos. Foram dias
inesquecíveis.
Quando
o avião levantou chorei.
De alegria por ter vivido aquele
sonho.
Francisco
"O trail, por vezes, não nos leva
a nenhures senão a um lugar que nos faça parar e apreciar o nosso mundo".
Anne Frost