terça-feira, 9 de junho de 2015

Azores Trail Run 2015

Azores Trail Run 2015






Nem sei por onde começar.
Toda esta aventura está muito fresca na minha memória.
Os cheiros, as cores, as pessoas, os trilhos, a descida alucinante até aos Capelinhos onde voei....  
Todo o cansaço como que por magia desapareceu, corri aqueles últimos kms quase sem tocar no chão e fiquei com o coração cheio.
Toda esta viagem foi planeada. Precisava dela. Precisava de voltar ao Faial.
Senti que se o fizesse “sozinho”, sem os meus amigos de sempre, iria ser diferente. Não podia estar mais certo.
Conheci pessoas novas, estive num grupo fantástico.
O Nuno e a Sandra o casal trail runner, o Paulo Gomes conhecido de outras correrias no Porto, o Paulo Moreira que come 10 sardinhas todos os dias e o Carlos Santos que partilhou o quarto comigo e foi um compincha à maneira.
Todos eles ficaram meus amigos para a vida pois tudo o que se passa no meio do Atlântico tem um valor e uma carga emocional muito grande.





Conheci o Sr. Américo, um serrano da Guarda de 82 anos acompanhado pela sua esposa sempre sorridente, que me fez sentir pequenino quando me disse que ia fazer a prova de 25 km. Contou-me histórias daquelas que nos deixam pregados no chão e não nos deixam perceber o tempo passar. Quando recebeu o prémio no pódio disse: “…só queria que as pessoas se dessem todas bem umas com as outras e fossem todas felizes.”
O facto de ter terminado a prova para ele foi relegado para segundo plano. “ Estou um bocadinho maçado, mas amanhã quero subir o Pico” disse-me ele quando voltou para a mesa.
Que resiliência, que vontade de viver! O Sr. Américo é a prova de que os limites estão dentro da nossa cabeça.
Queria falar dos trilhos mas não o vou fazer, vou tentar não o fazer, pois quero que este bocadinho de paraíso seja descoberto pelas pessoas que lerem isto. Vão até lá, descubram.
Vale a pena.

Durante a prova senti a ajuda de todos. A subida para a caldeira foi dura e consegui subir sempre a correr, embora as minhas amigas vaquinhas fossem às dezenas no meio do estradão.
Estava lá o meu Pai, o mestre Chico, o João Marinho (um grande abraço Pedro), a minha avó...
 Todo o meu grupo do BYL! estava no meu pensamento e sempre que precisei vocês ajudaram-me a voar. 
Emocionalmente foi uma prova brutal. A subida à caldeira pela sua distância e a entrada na caldeira deixou-me pregado ao chão. Parei. Tive que parar.

Fiquei parado a ouvir o silêncio no miradouro até que um casal de turistas me disse:       “Não vais correr mais?”
Acorda Francisco, pensei eu. Agradeci e continuei.
Correr na caldeira é tal como o Armando Teixeira diz : “ É ter uma mão a tocar no mar e outra na montanha”. Literalmente.
A zona das levadas é idílica: as cores, a luz, as plantas, as árvores, tudo é belo quando estamos naquele equilíbrio perfeito com a natureza. Houve também uma parte em que me pareceu estar nos Trilhos dos abutres, tanta era a lama e a humidade, mas até aí foi espetacular.
A última subida foi muito dura, mas sempre a ultrapassar com o pisca ligado. À medida que a prova se ia aproximando do fim o cansaço parecia não existir. 
Descer até ao Farol dos Capelinhos foi um misto de alegria e raiva! Raiva, mas daquela raiva boa que nos dá força, que nos motiva.

Desci como nunca tinha descido nada, corri como se não houvesse amanhã, queria cortar a meta e dar um abraço ao Paulo que já tinha terminado.
Já vos disse que foi espetacular?
Cerveja e carapauzinhos de escabeche. Onde? No fim do Azores Trail Run. Só aí se comem carapaus de escabeche no fim de uma prova.
Depois foi esperar chegar o resto do grupo. O Nuno, a Sandra, o Paulo Moreira.
O sorriso na cara deles fez-me perceber que tinham vivido o mesmo que eu.
Vi chegar a Bárbara que fez a sua primeira ultra e vinha ofegante, mas com uma expressão de felicidade.
 Acho que todos nós na meta ficamos com essa expressão.
Depois chegou o Andrea que já tinha a Francesca à sua espera na meta. Ele fez a prova maior, ela a mais pequena. Este casal recém-casado veio aos Açores passar a sua lua-de-mel.
                E nada melhor do que fazer uma ultra maratona. Também o Andrea fez a sua primeira ultra e a Francesca está a começar nestas lides do trail. Que casal tão simpático e boa onda.
               



  Apareceu também o Leon Luts. Um americano que tem uma barba quase do tamanho das barbas do Panoramix. Não corta a barba vai a caminho de 6 anos. Uma figura, também um bem-disposto, tal como todos com quem me cruzei.
               


  Foi inesquecível. Todos os momentos. Os treininhos ligeiros, os almoços e jantares, os 2 gins J que bebi no Peter (porque beber antes das provas faz mal), aquele bife de atum que ainda não consegui arranjar um adjetivo para o qualificar....
                Mais uma vez o Faial deixou em mim a sua marca. Só me resta agradecer a todos que se cruzaram comigo nesta viagem. O meu muito obrigado a todos. Foram dias inesquecíveis.
                Quando o avião levantou chorei.
De alegria por ter vivido aquele sonho.

                Francisco
 


"O trail, por vezes, não nos leva a nenhures senão a um lugar que nos faça parar e apreciar o nosso mundo".
Anne Frost